Guerra de Canudos

Vamos falar agora sobre a história da cidade de Canudos, desde a época daquela que foi uma das mais sangrentas guerras civis do Brasil até a formação do município. Veja a partir de agora o que a história fala sobre este episódio:

A Guerra de Canudos

“…Em 1896 há de rebanhos mil correr da praia para o sertão; então o sertão virará praia e a praia virará sertão.

Em 1897 haverá muito pasto e pouco rasto e um só pastor e um só rebanho.

Em 1898 haverá muitos chapéus e poucas cabeças.

Em 1899 ficarão as águas em sangue e o planeta há de aparecer no nascente com o raio do sol que o ramo se confrontará na terra e a terra em algum lugar se confrontará no céu…

Há de chover uma grande chuva de estrelas e aí será o fim do mundo. Em 1900 se apagarão as luzes. Deus disse no Evangelho: eu tenho um rebanho que anda fora deste aprisco e é preciso que se reúnam porque há um só pastor e um só rebanho!” (Profecias de Antônio Conselheiro descritas no livro Os Sertões de Euclides da Cunha.

A maior expressão dos movimentos rústicos no Brasil está ligada ao nome de Antônio Vicente Mendes Maciel – o celebre Antônio Conselheiro.

Filho de uma família de pequenos proprietários, Conselheiro conviveu desde cedo com as agruras da vida sertaneja: sua família foi perseguida por latifundiários, perdeu o pai ainda jovem, teve de abandonar os estudos eclesiásticos, fracassou como pequeno comerciante, sua esposa o abandonou…

Em fins da década de de 1860 abandonou o ceará e foi para o norte da Bahia. Começou a fazer pregações como beato. A figura do beato era comum no sertão nordestino. Sua origem se relaciona com as atividades do padre José Maria Ibiapina, que, seguindo a orientação do catolicismo do seu tempo, procurou melhor comunicação entre o clero e os fiéis. Ao padre Ibiapina deveu-se a criação de inúmeras “casas de caridade” – mistura de orfanato e escola que se multiplicaram a partir da segunda metade do século XIX. Essas “casas de caridade” eram administradas por ordens leigas , isto é, não reconhecidas pela igreja, mas toleradas por ela. E foi em função dessas casas que se multiplicaram as ordens de beatos, expressão concreta da intensificação da religiosidade no sertão nordestino. Dentro desse quadro, o prestígio de Antônio Conselheiro começou a aumentar, e por isso ele passou a ser perseguido sistematicamente pela Igreja. Conselheiro reuniu ao redor de si número crescente de fiéis, grande parte deles expulsos de suas terras pelos coronéis. O primeiro choque com a polícia foi em 1893, quando Antônio Conselheiro queimou os editais de cobrança de impostos municipais, determinada pelo governo federal.

Perseguidos pela polícia, Antônio Conselheiro e seus seguidores refugiaram-se em Canudos, no norte da Bahia. Formaram ali uma comunidade de beatos, que, em virtude das crescentes pressões religiosas e civis, decidiu romper com o mundo circundante, organizando-se assim uma comunidade consciente de suas particularidades. Essa população humilde que se concentrava em Canudos, ali plantavam, colhiam, criavam, edificavam e rezavam. Eles esperavam construir uma cidade santa, a que chamaram de Belo Monte. Com o tempo, o arraial, cresceu vertiginosamente, alcançando mais de 25.000 habitantes, que, no final do século XIX, era, após Salvador, a mais populosa localidade da Bahia.

No sertão nordestino, o que se via eram centenas de milhares de trabalhadores precisando trabalhar e não encontrando trabalho. As grandes fazendas davam emprego a pouca gente e, quando precisavam de mais braços para as colheitas, iam às chamadas feiras de trabalhadores e escolhiam os mais fortes. os salários eram muito baixos. Em meio a tal situação, Canudos era um verdadeiro paraíso: os rebanhos, as pastagens e as colheitas pertenciam a todos: não havia patrões e empregados, nem ricos e pobres. As feiras de trabalhadores começaram a desaparecer, todos iam para Canudos, em busca de uma vida decente. A comunidade de Canudos tornou-se, então, um núcleo próspero, dedicando-se inclusive às trocas com as cidades vizinhas. Naturalmente, os grandes proprietários rurais se inquietaram com o crescimento de Canudos, e assim as articulações para a sua dispersão se iniciaram, com apoio da Igreja. Contra Canudos as denuncias oficiais se multiplicaram, acusando o líder Conselheiro de conspirar contra a república em virtude de sua posição monarquista – argumento, aliás, amplamente utilizado como pretexto às repressões que foram desencadeadas.Como é que o governo poderia aceitar tal realidade?

Formou-se também um governo, que segundo Douglas Teixeira era assim constituído: abaixo de Antônio Conselheiro havia os subchefes como “ João Abade, comandante da rua, encarregado da segurança e da guerra; Antônio Vilanova, escrivão de casamento, responsável pelos assuntos civis e administrador do patrimônio material; Antônio Beatinho, assessorado por oito beatas, era o coadjutor do chefe na organização das práticas religiosas”.

Quatro foram as principais expedições militares enviadas para derrotar e destruir Canudos – duas estaduais e duas federais. Na primeira delas, foram cem homens comandados por um tenente, em 1896, no governo de Prudente de Morais, vencidos depois de um violento combate corpo a corpo. A resistência de Canudos foi notável, obrigando as forças da ordem a multiplicar os esforços para combatê-la. A segunda expedição, comandada comandada por um major, contou com 250 homens. Partiu triunfante, certo da vitória fácil, e voltou derrotada, tendo perdido mais de cem soldados na batalha. Devido às seguidas derrotas que as forças oficiais sofreram, a Guerra de Canudos começou a ocupar as páginas dos noticiários, tornando-se célebre. A imprensa baiana começou a mandar notícias alarmantes para o Rio: o Conselheiro era monarquista, os sertanejos eram bárbaros. Na verdade, o Conselheiro era contra a República, pois considerava-a culpada pela miséria do povo.

No Rio, o presidente Prudente de Morais ficou indignado. Mandou chamar o coronel Moreira César – que ficara famoso pelas crueldades que praticara contra os federalistas em Santa Catarina – e entregou-lhe o comando na nova expedição, desta vez com forças federais.

Moreira César achou que seria a coisa mais fácil do mundo derrotar canudos. Enganou-se redondamente. Escondidos entre os arbustos, nas grutas e nas pedras, procurando a luta corpo a corpo, os sertanejos transformaram em fraqueza a força de repressão. foi um verdadeiro “salve-se quem puder”. Os poderosos canhões lá ficaram, abandonados, junto ao cadáver insepulto de Moreira César.

Para o governo federal, a brutal derrota e a debandada de seus soldados era por demais vergonhosa. Era preciso pôr um fim nisso. Foram mobilizados oito mil homens, equipados com as mais modernas armas do tempo e com o próprio ministro da guerra dirigindo as operações e três generais no comando,um deles o General Artur de Andrada Guimarães. Preparou-se a opinião pública: o Exército ia salvar a República. No dia 24 de setembro de 1897, Canudos estava cercada. Foram dez dias de lutas encarniçadas, homem a homem. Só no dia 5 de outubro caíram os últimos defensores da cidade em chamas: um velho, dois homens adultos e uma criança.

“Canudos não se rendeu. Exemplo único em toda a história, resistiu até ao esgotamento completo. Expugnado palmo a palmo, na precisão integral do termo, caiu no dia 5, ao entardecer, quando caíram os seus últimos defensores, quando todos morreram. Eram quatro apenas: um velho, dois homens feitos e uma criança, na frente dos quais rugiam raivosamente 5 mil soldados.” (Os Sertões, Euclides da Cunha).

Com o topônimo de Canudos, município então criado, com território do distrito de Cocorobó, desmembrado de Euclides da Cunha, por força de Lei Estadual de 26/02/1985. A sede foi elevada à condição de cidade, quando consolidou-se a criação do município.

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